Número de infectados pela Aids volta a subir no Brasil, alerta pesquisa
ESTADÃO - 12/07/2016
América Latina caminha em direção oposta ao mundo e provoca
alerta. Dados foram computados entre 2010 e 2015
Rio - O número de pessoas infectadas pelo vírus da aids
volta a subir no Brasil, enquanto a UNAids - programa da Organização das Nações
Unidas (ONU) para combater a doença - alerta que os avanços pelo mundo nos
primeiros dez anos do século 21 perderam força. Dados publicados nesta
terça-feira pela entidade revelam que, se cerca de 43 mil novos casos eram
registrados no Brasil em 2010, a taxa em 2015 subiu para 44 mil.
Em termos globais, a agência de combate à aids aponta que o
número de novas infecções pelo mundo caiu apenas de forma modesta, de 2,2
milhões em 2010 para 2,1 milhões em 2015. O Brasil e a América Latina, porém,
caminharam em uma direção oposta.
"Estamos soando o alarme", disse Michel Sidibé,
diretor-executivo da UNAids. "O poder da prevenção não está sendo
realizado. Se houver um aumento de novos casos de infecção agora, a epidemia
será impossível de ser controlada. O mundo precisa tomar medidas urgentes e
imediatas", alertou. Hoje, são 36,7 milhões de pessoas vivendo com a
doença pelo mundo e com 1,1 milhão de mortes.
No total, a população vivendo com aids no Brasil passou de
700 mil para 830 mil entre 2010 e 2015, com 15 mil mortes por ano. "O
Brasil sozinho conta com mais de 40% das novas infecções de aids na América
Latina", alertou a Unaids.
A organização destaca importantes avanços na região no que
se refere à contaminação de crianças, com uma queda de 50% em apenas cinco
anos. Mas, entre adultos, a UNAids alerta para um aumento de casos de 2% entre
2010 e 2015, atingindo um total de 91 mil novas infecções por ano.
Na América Central, as taxas de aumento foram de quase 20%
em países como Belize, Nicarágua e Guatemala. No México, a alta foi de 8%,
contra 5% na Colômbia e 4% no Brasil. Em pelo menos dez países
latino-americanos, porém, houve queda no número de novos casos, incluindo
Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela.
No Brasil, apenas 6% do orçamento seria usado para programas
de prevenção e, dos 830 mil pessoas vivendo com a doença, 452 mil estariam
recebendo a terapia, cerca de 55%.
Em termos gerais, o Brasil gastaria cerca de US$ 800 milhões
com o combate à aids, segundo dados de 2014. Mas o estudo alerta que a
prevenção pode estar falhando. Quase metade dos homens que tem relações sexuais
com outros homens nunca tinha sido testado.
A preocupação dos especialistas da ONU não é apenas com o
Brasil Segundo a entidade, depois de "quedas significativas" da aids
no mundo, os avanços se estagnaram. Desde 1997, o número de novas infecções
pelo mundo caiu em 40% e em 70% entre crianças.
Mas, ainda assim, 1,9 milhão de pessoas a cada ano desde
2010 em média foram afetadas. "A prevenção precisa ser fortalecida",
alerta a entidade.
A ONU espera acabar com a aids até 2030. Mas os últimos
dados mostram tendências contrárias. No Leste Europeu, o número de novos casos
aumentou em 57% entre 2010 e 2015. No Caribe, depois de anos de queda, a
expansão é de 9% a cada ano desde 2010. No Oriente Médio, o aumento foi de 4%,
a mesma taxa na África.
Na Europa e na América do Norte, a queda no número de casos
foi insuficiente para compensar o aumento nas demais regiões. Em 35 anos, 35
milhões de pessoas morreram no mundo por causa da aids e 78 milhões foram
infectadas.
Na avaliação da entidade, governos precisam focar seus
esforços em determinadas populações mais vulneráveis. Homens que mantêm
relações com outros homens têm 24 vezes mais chance de ser contaminados do que
a média da população, a mesma taxa que usuários de drogas injetáveis. Já
prostitutas têm dez vezes mais chances e prisioneiros, cinco vezes mais. No
total, esses grupos representam um terço das novas contaminações no mundo.
Apesar dos avanços, apenas 57% das pessoas infectadas sabem
que são portadoras do vírus e somente 46% dos doentes têm acesso a tratamento,
cerca de 17 milhões de pessoas.
O avanço da doença ocorre no mesmo momento em que as doações
internacionais sofreram quedas importantes. Em 2013, elas foram de US$ 9,7
bilhões. Mas caíram para US$ 8,1 bilhões em 2015. No ano passado, US$ 19,2
bilhões eram necessários para lidar com a doença.
Se não bastasse a falta de recursos, a entidade alerta que
apenas 20% dos gastos com a aids têm sido usado para programas de prevenção.
http://odia.ig.com.br/brasil/2016-07-12/numero-de-infectados-pela-aids-volta-a-subir-no-brasil-alerta-pesquisa.html
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